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Editorial

Bootleg: A Incrível História Da Discografia Alternativa De Elvis - POR SERGIO BISTON

 

PARTE 1

 

 sergio123 (23K)Quem descobre Elvis dificilmente consegue esquecê-lo. Seja por sua obra, carisma ou talento. E mais cedo ou mais tarde, quem se aprofunda um pouco mais, acaba descobrindo o fabuloso mundo dos Bootlegs, popularmente (e erroneamente) chamados de piratas. Esse verdadeiro baú de tesouros foi, e é, responsável pela alegria de colecionadores do mundo inteiro.

Meu primeiro bootleg foi um show de Vegas em 1976, "Run On". Lembro-me como hoje do dia que consegui uma cópia em CD-R daquele concerto, depois de tomar conhecimento desses CDs num livreto adquirido (ironicamente) em Graceland. Ele trazia uma lista com títulos para mim completamente desconhecidos. Alguns meses mais tarde, entrei na internet pela primeira vez ( o ano era 1997 e a Internet estava começando a se popularizar no Brasil) e através dela descobri o site norueguês Elvis Is Still Active In Norway. Foi nesse site que descobri que além dos meus Vinis e CDs da RCA/BMG existia toda uma vasta gama de material inédito de Elvis lançada por selos independentes e ilegais. Aquela descoberta foi simplesmente impactante. Para um fã que cresceu escutando os lançamentos oficias e apenas sonhava em como teria sido um show de Elvis em 1975 ou 1976, a idéia de que esses concertos existissem na forma de CDs era simplesmente inacreditável. Afinal, que shows eram aqueles? Um show de 1976? Como esses shows tão diferentes podem ter passados desapercebidos? A empolgação inicial da descoberta deu lugar à confusão: Onde encontrar essas preciosidades? Seria esse material exclusivo de colecionadores?

Foram necessários alguns meses de pesquisa para finalmente conseguir aquela cópia em CD-R, com capa xerocada e rótulo colado no disco. A sensação de possuir aquele material era indiscritível. Era como se eu estivesse de posse de um tesouro incalculável e na minha ingenuidade de colecionador principiante, achava que tinha algo exclusivo, que poucos possuiam. Por medida de precaução, com medo de perder de alguma forma aquele CD, fiz uma cópia em fita cassete, a qual intitulei de "Run On Backup". É claro que embora fosse raro e restrito à pequenos grupos de colecionadores, aquele material não era assim tão exclusivo. De fato, o show era fraco e a qualidade sonora era medíocre. Mas a sensação de estar ouvindo algo inédito de Elvis, aliado ao aspecto da clandestinidade daquele material fazia com que o bootleg assegurasse um lugar muito especial na minha coleção. Muitos outros bootlegs vieram nesses dez anos que se passaram, muitos shows fabulosos, alguns péssimos e até material de estúdio foi disponibilizado. Embora o primeiro CD bootleg de Elvis tenha surgido em 1991 com Just Pretend, a história desses registros históricos e raros de Elvis começou muito antes, ainda na era do Vinil.

No década de 70, em porões escuros e em estúdios e plantas de prensagem europeus e americanos, os primeiros "bootlegers" começavam uma revolução silenciosa. Eram fãs que, presentes em shows de Elvis e de posse de gravadores portáteis cuidadosamente escondidos em bolsas, casacos e até mesmo dentro de calças, registravam em segredo as performances de seu ídolo. Mais tarde, essas fitas preciosas iniciavam uma perigrinação nas mãos de pequenos grupos de fãs e colecionadores que se deliciavam com registros de qualidade sonora sofríveis.

Outros, de alguma forma ou de outra, obtiam acesso à tapes de estúdio que sob qualquer hipótese, deveriam estar muito bem guardados pelas gravadoras. Eram negociadas sob total sigilo em encontros noturnos em estradas desertas, por pequenas fortunas. 

Era uma questão de tempo até que alguém decidisse pegar uma dessas fitas e "prensa-la" num bolachão de Vinil. A tarefa não era fácil. Era preciso trabalhar na total obscuridade e segredo, uma vez que o processo era ilegal desde seu início, já que gravações de qualquer apresentação de Elvis ou distribuição de material de estúdio eram estritamente proibídas. Era preciso pagar altos valores para utilizar um estúdio e mais tarde uma planta de manufacturação de discos que topasse fazer o serviço sujo.

editorialboot (35K)Mesmo com tantas adversidades nasceu em 1970 na Holanda, Please Release Me, o primeiro bootleg de Elvis Presley. O disco trazia material de estúdio da década de 60 e a faixa Baby What You Want Me To Do?. Além delas, duas canções cantadas por Elvis no especial Timex, de Frank Sinatra. Um delírio para os fãs.

Seguiram-se lançamentos como I Wanna Be A Rock´N´Roll Star, Rocking Rebel e Good Rocking Tonight, que trazia, acreditem, outtakes do período SUN.

Os primeiros passos de uma era de ouro haviam sido dados, e uma explosão de lançamentos aconteceria nos próximos anos.

Cada vez mais populares entre os fãs, os discos eram vendidos pelo correio, através de folhetos distribuídos por fã-clubes e até mesmo em pequenas e obscuras lojas de discos locais.editorialbootleg7 (72K)

Títulos cada vez mais interessantes começavam a aparecer em convenções e reuniões de fãs, muitos trazendo gravações de shows. Títulos como Live In USA, The King Goes WildThe King Of Las Vegas, traziam gravações em péssima qualidade sonora de concertos de Elvis. Desses, os mais famosos e importantes de todos foram sem dúvida From The Waist Up e editorialboot3 (49K)The Dorsey´s Show, contendo as apresentações de Elvis nos shows de Ed Suliivan e Tommy Dorsey, respectivamente, e Rocking With Elvis New Year´s Eve, que continha o show de ano novo de Elvis em Pittsburgh no ano de 1976 e que, segundo reza a lenda, o próprio Elvis teria tido conhecimento de seu lançamento.

A produção de títulos clandestinos era prolífica, mas um acontecimento inesperado em Agosto de 1977 mudaria tudo repentinamente. Os anos seguintes foram duros para os fãs, que além de privados de seu grande astro, ficaram a deriva sem praticamente nenhum material inédito pela gravadora oficial. Isso claro, se os bootlegers não viessem ao seu socorro. O primeiro bootleg póstumo foi, apropriadamente, The Last Farewell, contendo uma gravação de platéia do último show de Elvis em Indianápolis.  Seguiram-se The Hibbilly Cat 1956-1974 e The Legend Lives On. Inúmeros outros vieram à público, contendo material de editorialboot4 (54K) editorialbootleg10 (32K)

estúdio e gravações de platéia.

Verdadeiros clássicos bootlegs surgiram nessa época:  The Burbank Sessions I e II, com material inédito do especial de 1968, e Behind Closed Doors, uma caixa de quatro LPs contendo material inédito de várias sessões de filmes da década de 60 foram os maiores expoentes dessa geração. Segundo relatos, os incríveis tapes contendo takes alternativos de trilhas sonoras em Behind Closed Doors, foram obtidos de um zelador que retirou os tapes do lixo, após a RCA os ter descartado, acreditando não possuir nenhum valor.

Em 1981 um divisor de águas foi lançado. Um tape até então desconhecido, contendo gravações de uma reunião de amigos, cantando várias canções numa atmosfera relaxada e divertida. Esses amigos eram Jonny Cash, Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e claro, Elvis Presley. O grupo, apropriadamente chamado de The Million Dollar Quartet fora gravado por Sam Philips ainda nos idos da década de 50, numa reunião informal. Durante décadas a gravação permaneceu escondida, até então ser lançada no vinil The Million Dollar Quartet.

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A cena bootleg estava a todo vapor, provendo os fãs com material inédito que a gravadora oficial renegava-se a disponibilizar. Mas começava a trazer para si uma atenção indesejada, saindo 
 cada vez mais do "ghetto" à qual era acostumada e começando a se infiltrar em círculos menos restritos. A revista Playboy, entusiasmada com a raridade das gravações, publicou uma resenha elogiando o álbum em suas páginas. Foi a gota D´agua para um grupo de pessoas que não estava tão entusiasmada com esses lançamentos. Começava assim, silenciosamente, um movimentação enxadrezista para deter o avanço dos Bootlegs. O FBI já ha algum tempo vinha seguindo os passos dos produtores deste material e cada vez mais o círculo se fechava. Plantas de produção de discos eram investigadas, números de matrizes rastreados, panfletos de divulgação confiscados e a cada dia, os investigadores chegavam cada vez mais perto de seus alvos.

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Não demorou muito para que em Agosto de 1981, em Memphis, numa feira de colecionadores, o FBI invadisse o local e confiscasse o material clandestino. Munidos de mandatos de busca e apreensão, os agentes arrancavam discos das mesas e caixas dos vendedores e jogam em pilhas no chão. O dia ficou conhecido como Terça-Feira Negra. No dia seguinte, a casa de John Greco, proprietário de uma loja de discos, foi invadida e seu estoque de mais de 50,000 bootlegs ( incluindo bootlegs de Bob Dylan e Beatles) foi confiscado. Com o nó cada vez mais apertado, o FBI chegou até Vic Colonna, Ace Anderson, Richard Minor e Paul Dowling, os homens responsáveis pelos lendários lançamentos clandestinos de Elvis. Se para os colecionadores e fãs de Elvis o trabalho desse quarteto não tinha preço, para o FBI as atividades desses homens era um crime pelo qual eles iriam pagar. Colonna, Minor,Anderson e Dowling foram acusados e condenados por conspiração, transporte interestadual de propriedade roubada, infração de direitos autorais e fraude pelos correios. Meses mais tarde o presidente Regan aprovaria uma lei que aumentava a pena para esse tipo de crime, prevendo multas de 250.000 dólares e encarceramento de cinco anos.

Vic Colonna cumpriu sua pena penitenciária e monetária e sua esposa entrou com um pedido de divórcio e guarda permanente dos filhos. Após cumprir sua pena, antes de despedir-se da cena bootleg, Vic lançou seu último disco, sua vingança pessoal contra a RCA que indiretamente havia sido responsável pela sua prisão. O bootleg mais odiado entre os fãs: Elvis, The Greatest Shit.

Acabava assim, a primeira era de ouro dos bootlegs.

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   PARTE 2 EM BREVE.

 

 

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