Bootleg: A Incrível História Da
Discografia Alternativa De Elvis:N - Parte 2 -POR SERGIO
BISTON
PARTE 2
Com o fim da primeira era de ouro
dos piratasdelaera de ouro dos piratas, o cenário alternativo não
mostrava um horizonte muito iluminado. Com a maioria dos responsáveis atrás
das grades ou enfrentando duríssimos processos judiciais que levariam muitos a
bancarrota e com famílias despedaçadas, os fãs só podiam trocar entre sí as
velhas fitas k7 com gravações de platéia de qualidade sonora sofrível ou
revisitar os grandes lançametos dos anos passados.
Um
respiro aliviado surgiu em 1988, quando um selo chamado
Bilko, apresentou um dos mais importantes lançamentos da
discografia alternativa de Elvis. Tratava-se de uma gravação de um show da
década de 50, praticamente completa, feita em Little Rock. Intitulado
apropriadamente de Elvis Rocks Little Rock, o CD do
então desconhecido selo marcaria o renascimento do cenário alternativo no
mundo Elvis, abrindo
caminho para uma série de novas "gravadoras
piratas".
Uma
dessas novas "gravadoras" era a Vicky, cujo CD
Elvis Live In Virginia, tornarse-ia um marco, sendo
a primeira gravação direta da mesa de som, com qualidade sonora muitíssimo
superior a qualquer outro show já lançado informalmente, assemelhando-se,
respeitando as devidas proporções, a uma gravação profissional. Estes pioneiros
pavimentaram a estrada para uma nova explosão no cenário alternativo, que
atenderia pelo nome de Fort Baxter.
Ela
se benificiaria da nova mídia que começava a ficar cada vez mais popular, o
Compact Disc. Seu primeiro lançamento trazia o registro sonoro da
penúltima
temporada de Elvis em Las Vegas, em Dezembro de 1975. Não obstante a
qualidade sonora superior, a FORT BAXTER trazia aos fãs um documento
importantíssimo, com um show de grande quilate e performances raras. O
nome não poderia ser ainda mais mitológico: Just Pretend. Os
fãs só podiam imaginar o que se seguiria ao lançamento deste pequeno disco
prateado que dividiria o mundo Elvis em antes e depois. Iniciava-se assim,
a segunda era de ouro dos Bootlegs. O
grande diferencial apresentado pela Fort Baxter era obviamente, a qualidade
sonora de seus CDs. Enquanto todos os outros selos lançavam apenas gravações de
platéia dos shows de Elvis, a Baxter trazia gravações feitas diretamente da mesa
de som, gravadas pelo engenheiro de som de Elvis para
diversas finalidades, desde registros pessoais, pedidos do
próprio Elvis ou referência para futuros músicos que por ventura integrassem a
banda. Vez ou outra, alguns fãs mais afortunados, com os contatos corretos,
acabavam ganhando cópias dessas fitas.
Exatamente
como esses tapes foram parar nas mãos dos "bootlegers" é ainda objeto de
especulação, mas sabe-se que existiam em círculos restritos de
colecionadores, muito antes de virem a tona em 1991 com o lançamento do CD Just
Pretend. Alguns
tapes, segundo rumores, vieram da coleção particular do Coronel Parker.
Especula-se que Parker tivesse um grande abastecimento de tapes contendo
gravações ao vivo e que não foram repassadas a EPE quando da grande compra na
década de 90. Ainda segundo esses rumores, Parker teria instruído sua esposa,
Loane, a desfazer-se dos tapes, pouco a pouco, garantindo assim uma forma de
renda alternativa.
Outras
fontes, essas mais dentro da especulação do que da realidade, dão que
alguns tapes podem ter vazado de dentro da própria BMG, num
trabalho interno. O fato é que a Fort Baxter iniciaria uma série de lançamentos
com shows gravados diretamente da mesa de som, intitulada "From The
Master Tapes". A série entraria para os anais da história dos
colecionadores.
Durante
seus sete anos de atividade, a Fort Baxter produziu uma série única de
lançamentos, com registros de importância imensurável para os colecionadores, e
que permanecem ainda hoje sem precendentes.
Entre
os petardos da Baxter, estava o lançamento de um show completo, da mesa de som,
da primeira temporada de Elvis em Vegas.
Mas
nada impactou tanto os fãs, quanto o lançamento de If You Talk In Your
Sleep, em 1994. Abrigado num design simples e sóbrio, uma foto em tom
esverdeado de um close do rosto de Elvis, o disquinho trazia um show
totalmente surpreendente e incomum, com canções nunca antes cantadas ao vivo,
algumas pela primeira e última vez. O show já havia sido lançado antes, como uma
gravação de platéia sob o nome Down In The Alley, mas a
indiscutível qualidade sonora do lançamento da Fort Baxter era enormemente
contrastante. A partir dele uma nova era de ouro iniciou-se, com uma explosão de
lançamentos e "novos selos".
A
Fort Baxter lançou pérolas como o último show de Elvis em Memphis, chamado
apropriadamente de Goodbye Memphis, o show de Memphis lançado
pela RCA, (porém na íntegra) e dois CDs que embora trouxessem performances de
qualidade inferior, apresentavam preciosidades como as únicas versões ao vivo de
Moody Blue e Where No One Stands Alone. Afora
do círculo restrito dos grandes colecionadores, os fãs de Elvis
desconheciam a existência dessas músicas em versões ao
vivo.
Tão
impactantes quanto eles foram os lançamentos de Desert Storm em
1996 ( o polêmico show de encerramento da mesma temporada de If You Talk In Your
Sleep) e das caixas A Profile Volumes 1 e 2. Abrigados
luxuosamente em caixas de papelão brilhante, com livretos e posters, os 8
CDs da coleção tornaram-se outro marco na discografia pirata de Elvis. Não
obstante o capricho, as caixas traziam não somente shows
inéditos de Elvis, mas músicas nunca antes ouvidas, como Cotton
Fields e a bela You´re The Reason I´m
Leaving.
Os
fãs estavam no céu.
Outros selos de qualidade surgiram na mesma época,
muitos eram na verdade a própria Fort Baxter, disfarçada sob outros nomes para
despistar as investigações paralelas.
Surgiram
então CDs como Let Me Take You Home, All Things Are
Possible, com a única versão ao vivo conhecida da canção e
Garanteed To Blow Your Mind, da DAE. A
2001 lançou material importante como Opening
Night 1972, Snowbird e um dos mais queridos bootlegs
de todos os tempos: Burning In Birmingham. Porém, não somente de gravações ao
vivo viviam os colecionadores. Foram dessa época lançamentos marcantes,
verdadeiros "santo-graal" para os fãs, contendo takes de estúdio e incríveis
ensaios.
American
Crown Jewels e Finding The Way Back Home foram
dois deles, trazendo material inédito das sessões de Elvis no American em
1968. O assortimento de material inédito era fabuloso, incluindo dezenas de
takes inéditos, alguns multiplos da mesma canção. A DAE lançou um dos mais
importantes registros do processo de criação musical de Elvis com o CD
From Sunset Boulevard To Paradise Road, que trazia ensaios para
a temporada de Agosto/Setembro de 1974. Entre as canções estavam Your
Love´s Been A Long Time Coming.
Já o
selo Bilko foi responsável por talvez a mais importante
série contendo material de estúdio. As luxuosas caixinhas Theres Always
Me Volumes 1,2,3 e 4 trouxeram uma enormidade de takes alternativos
inéditos de sessões da década de 50 e 60 e ensaios da década de 70. A
qualidade sonora era exuberante e os lançamentos batiam até mesmo os produtos
oficiais da RCA/BMG
Gradativamente,
entretanto, após quase uma década de atividades, o cenário alternativo
pintado tão ricamente por selos como a Fort Baxter, Bilko, Rock
Legends e DAE começou a desbotar. O acesso a novos tapes,
soundboards e raridades começou a minar o segmento. A chegada da Internet e com
ela a opção do download de discos inteiros, somado a uma nova, embora em muito
menor escala, "caça as bruxas", encolheu ainda mais o restrito mercado dos
bootlegs.
O
surgimento da Madison na virada do milênio trouxe um necessário alívio ao
mercado informal. Com lançametos de qualidade, a Madison mantém os fãs
abastecidos com suas doses regulares de soundboards. Mesmo assim, o cenário
informal não possui mais a mesma exuberância da década de 90.
A
cena hoje é dominada por um novo concorrente, esse beneficiado pela
legalidade. Seu nome: FTD. O segmento "bootleg" da Sony/BMG.