Editorial |
NOTHING BUT A HOUND DOG? - POR SERGIO LUIZ
O
último dezesseis de agosto marcou a passagem de trinta anos da morte de Elvis
Presley. Desde seu desaparecimento físico, e mesmo quando ainda vivo, sua obra,
vida, comportamento e impacto cultural foram esmiuçados por críticos e
pseudo-críticos dos mais diferentes campos. Morto, foi alçado ao panteão dos ícones
absolutos. Mesmo assim a obra de Elvis Presley continua sendo para muitos,
enigmática e mal compreendida. Para alguns não há dúvidas: Elvis Aaron Presley
cravou seu nome para a eternidade quando tomou o mundo como um furacão há mais
de cinqüenta anos atrás. Para outros, porém, este reconhecimento não é merecido.
Para estes, o fato de Elvis não ser o compositor de seu próprio material é fato
suficiente para desmerecer sua obra e seu legado. Opiniões são opiniões, mas tal
argumento pode se sustentar por si só? Será a ausência de composições próprias,
característica tão desabonadora num trabalho tido como um dos pilares
sustentadores de uma revolução cultural e musical, chamada Rock ´n ´ Roll?
Valer-se
do argumento de que Elvis não compunha seu próprio material para diminuir seu
talento e seu impacto cultural é atitude por demais infantil e não condizente
com alguém que supostamente tem conhecimento da história da
musica.
Paralelamente,
podemos dizer que a música é também interpretação. Uma canção bem escrita e
arranjada pode perder todo seu sentido se o instrumento condutor de sua mensagem
não expressa-la de maneira adequada. Da mesma forma age o ator nos filmes e no
teatro. Sua interpretação é o catalisador para a materialização das palavras
imaginadas pelo autor da obra. Ora, sendo assim, podemos relegar o trabalho do
ator a um lugar menor ou sem importância, tão somente porque ele não foi o autor
daquelas palavras, ou até mesmo, das características de seu
personagem?
Da mesma forma, não podemos diminuir o trabalho do interprete tão somente porque ele não compôs a letra ou a música. Tal qual o ator, o cantor também se vale de seu talento inerente para que a mensagem e, principalmente, o sentimento da canção, atinja o ouvinte de maneira a despertar nele uma reação condizente. Sem essa interpretação tão crucial, sua letra e seus acordes tornam-se apenas palavras e sons desprovidos de qualquer emoção e/ou sentido.
Há
também que se considerar o tremendo impacto de Elvis em figuras de suma
importância no cenário musical. Como bem sabemos, a música estabelece profundos
vínculos sociais e sua influência molda parâmetros de comportamento há milênios.
Desde que o homem dançou ao som do batuque de tamborins feitos do couro extraído
de sua caça, a música vem entranhando-se na sociedade de modo a fazer parte do
dia a dia de seus indivíduos, identificando-os e separando-os de acordo com seus
gostos e predileções. Dentro desse aspecto amplo, a influencia de Elvis e sua
obra não pode ser ignorada, sob pena de se desmerecer a própria influencia
sócio-cultural da música em si.
Seu
impacto foi sentido por toda uma geração e moldou costumes que ainda hoje
ressoam em nossos meios de comunicação.
Jonhn Lennon, tido em alta estima pela crítica, foi enfático ao afirmar que “Antes de Elvis não havia nada”. Uma frase já clichê, mas que resume perfeitamente a dimensão do fenômeno Elvis.
Talvez
ainda mais certeira, a elocução do contestador Dylan: “Ouvir Elvis pela primeira
vez, foi como escapar de uma prisão”.
Ora,
a influencia não é principalmente a característica das grandes obras? Não é o
influenciador uma figura de tal grandiosidade que outros buscam a ele se
assemelhar? Sendo assim, não se pode negar que Elvis foi um grande
influenciador. Um artista capaz de despertar em outros indivíduos uma centelha
de produtividade cujos reflexos serão sentidos nos anos
porvir.
Como
negar então a influencia de Elvis Presley em artistas como Bruce Springsteen,
que tão apaixonadamente interpreta Cant Help Falling In Love, ao ar livre, para
uma multidão ululante? Não está naquele momento, vinte e poucos anos depois, sua
influência sendo sentida por todos no local? Mais ainda, não está esse grande
artista, mostrando o reflexo de uma obra tão impactante que o impulsionou a
seguir um caminho que culmina em todo um corpo de obra?
Outro
argumento por vezes usado pelos detratores de sua obra e recentemente utilizado
por Jamari França em seu texto sobre os trinta anos sem Elvis, é em relação ao
período e a extensão da obra de Elvis, como fator revolucionário. Cito:
“Elvis
fez rock de
{...}Se alguém merece ser rei
do rock deveria ser Chuck Berry. Na seara branca, os Beatles pela obra notável,
criada e gravada por eles, de obras reconhecidas até hoje como “Revolver’’, o
álbum branco e “Sgt Pepper's
Qualificar
um trabalho pela quantificação é um erro amador por demais. Primeiro porque nem
todo o trabalho de um artista é, ou precisa ser, necessariamente revolucionário
para ser bom. Que o diga Frank Sinatra, outro gigante musical cuja influencia
pode ser sentida hoje em artistas como Michael Bublé, um respiro de ar puro num
ambiente altamente saturado de partículas comerciais e sem conteúdo que terminam
com sobrenomes Spears ou Simpson.
Segundo porque a
obra de Elvis, quando comparada com a de outros artistas, não é assim tão
pequena.
Numa
comparação direta com os artistas citados, e considerando apenas sua obra mais
culturalmente importante, Elvis conta com
9 LPs, 9 EPs (contendo material inédito)e 26 compactos, dois quais 5 são
considerados pelos críticos como pedras fundamentais da criação do Rock, tendo
sendo incluídas nos registros da biblioteca do congresso americano. Isto num
período de cinco anos.
Comparando
diretamente com os Beatles , citados no texto, o grupo lançou num período de
sete anos,12 albuns , 2 EPs ( contendo material inédito) e 24 compactos. Já Chuck Berry lançou
cerca de 26 LPs e 45 compactos, num período de 24
anos.
Obviamente,
embora os Beatles e Berry possam ter sido mais consistentes em suas obras do que
Presley, nem todo o material produzido por esses artistas pode ser considerado
revolucionário. Portanto, o argumento de que Elvis produziu muito pouco material
relevante para ser entronizado não se sustenta. Outro fato que deve ser levado
em consideração, é que após o período 1955-1958, Elvis ainda produziu pelo menos
3 albuns e um single cuja relevância artística não pode ser ignorada. São eles:
Elvis Is Back em 1960, Elvis NBC TV Special de 1968, From Elvis In Memphis em 1969 e o
compacto Suspicious Minds, também de
1969. Há ainda alguns álbuns que não podem ser elevados a condição de obras
supra, mas que apresentam denotada qualidade como How Great Thou Art (premiado com o
Grammy) On Stage, Elvis Country, He Touched Me ( também premiado com o
Grammy)e Today.
Fica claro que um conjunto de
obra tão significativo não pode simplesmente ser ignorado ou desmerecido por
nenhum dos argumentos apresentados. Pouquíssimos artistas apresentam obra tão
influente e revolucionária.
Mas é
Dave Marsh, renomado critico musical norte-americano, quem sumariza
perfeitamente a questão:
“Elvis não foi um grande artista por um
ou dois anos isolados, mas sim por duas décadas quase contínuas. Incrédulos
devem ouvir as evidências. A defesa encerra”
Então,
deixemos que os incrédulos ouçam as evidências. No final das contas, pouco
importa se Elvis é ou não é o rei do rock ou se sua obra é relevante ou não,
pois ela não se confina aos livros de história. Ela se expande para horizontes
ainda maiores, para alem do simples folhear de uma página, ou um conjunto de
caracteres virtuais. Ela reverbera num ritmo atemporal, magicamente levando a
todos para a terra do nunca, onde o espírito é para sempre jovem e isso, queira
você ou não, é puro Rock´n´Roll.
® 2008 Sergio Luiz Fiça Biston
® 2007 ELVIS COLLECTORS
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